BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | Existe um país para além da curva de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
Sempre critiquei os protestos onde houve quebra-quebra. Especialmente as manifestações que, em tese, visam lutar pelos direitos do trabalhador. Interditar ou destruir estações das barcas ou de trens, terminais de ônibus (e os próprios coletivos), orelhões (que ainda existem), ou seja, isso é prejudicar justamente quem o manifestante visa defender. Esses protestos tinham um viés fascista travestido em revoltar popular. E se há um movimento que obriga você a se mascarar, não se pode reclamar que haja infiltrados.
Em 2013 as ~jornadas de junho~ tinham como premissa básica a destruição, quando a ~tática ~ blackbloc passou a ser mais conhecida aqui no Brasil. Buscavam, talvez, a morte de um deles para encurralar a polícia. Uma morte política. Mas o que conseguiram foi matar. Mesmo que a intenção fosse atingir um policial – justificativa dos envolvidos no crime – o movimento dos mascarados conseguiu um rojão que saiu pela culatra: mataram um trabalhador em praça pública, no centro do Rio de Janeiro. Em pleno exercício da profissão. Poderia ser um vendedor ambulante ou um jornalista, a questão é que um movimento que tinha como objetivo lutar pelos trabalhadores, acabou matando um. À luz do dia. Com milhares de testemunhas. A Central do Brasil, onde passam milhões de pessoas semanalmente, foi palco dessa atrocidade. Também não tinham intenção de espancar os rapazes que agrediram uma empregada doméstica na Barra há alguns anos, porque pensaram se tratar de uma prostituta; também não tiveram intenção de queimar vivo o índio pataxó em Brasília, há vinte anos, pois acreditaram ser um mendigo que dormia num ponto de ônibus.
Que sejam punidos os assassinos de Santiago Andrade.
O quebra-quebra ocorrido em Brasília, maio 2017, é bem diferente. Existe um foco. É a derrubada de um governo ilegítimo, golpista, que visa justamente acabar com muitos direitos dos trabalhadores. Não adianta se informar por aqui e por ali, basta buscar a informação no texto das reformas. Você pode ser contra ou a favor, é claro. Mas não somos nós (eu ou você) que decidimos. É a massa. É preciso acabar com essa mania de sermos o tutor do povo, de achar que o Brasil é um país com quatro cidades apenas. Existe um país para além da curva de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. E é esse Brasil, desconhecido deste eixo, que vai ser sacudido com as reformas. É sobre o trabalhador rural que vai virar escravo – e você caga. Se sua empresa não aguenta mais pagar impostos e salários (mais benefícios) de seus funcionários e por isso você quer a reforma, é o seu direito. Mas respeita e ouve o empregado, porque reforma trabalhista que favorece o empregador é meio estranho. Não sei se alguma vez ao negociar com o patrão a proposta do funcionário prevaleceu. Mas deve ter acontecido, não é possível.
Mas tudo bem. Na França é lindo, aqui é feio.
O povo não aguenta mais ser tratado como trouxa. Incendiar 'prédios públicos' na sede do governo federal, destruir vidraças dos ministérios, enfrentar uma polícia que utiliza armas de fogo para conter manifestantes violentos, isso tudo não é apenas um movimentinho de “contra tudo isso que está aí”. É fácil sentar a bunda no facebook e dizer que tá errado, que é feio, que não é assim. Amigos, o troço chegou em BRASÍLIA. Não é roleta de trem, não é estação das barcas, não é terminal de ônibus. É um vômito social na capital do país. Mas quem promoveu quebra-quebra tem que ter peito também de responder pelo que fez. Como jornalista e cidadão, apenas consigo enxergar diferenças entre os movimentos. Hoje tem trabalhador na rua. Na luta. Não é aquela molecada inconsequente que acende um rojão em frente a câmeras de tevê e jornal.
Isso mudou.
Agora quem atira com arma de fogo em frente às câmeras de jornalistas são os policiais de Brasília.
Que sejam punidos também.
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