EMPIRICUS DAILY PRO
O último romântico
|
Nesses
momentos, pessoal recorre a Warren Buffett, Benjamin Graham, Phillip
Fisher, George Soros, Barack Obama, sei lá mais quem. Eu me volto a Raul
Seixas:
"Mas
é que se agora pra fazer sucesso, pra vender disco de protesto todo
mundo tem que reclamar. Eu vou tirar meu pé da estrada e vou entrar
também nessa jogada e vamos ver agora quem é que vai guentar."
Eu
também vou reclamar. Eu reclamo desta gente que repete clichês e fatos
estilizados como se fossem insights relevantes. Teorias pasteurizadas e
da profundidade de uma folha sulfite são repetidas como se fossem coisas
inteligentes.
Nada
mais cafona do que radialista se achando descolado colocando música do
Cazuza, na versão da Gal Costa, e cantando por cima: "Brasil, qual é o
teu negócio? O nome do teu sócio? Confia em mim." E fica repetido:
"confia em mim, confia em mim".
Quando eu vejo esse tipo de coisa, sinto náuseas.
Quando
vejo economista no trending topics do Twitter por entrevista detonando o
Brasil, eu lembro que as finanças e os investimentos, que são meus
temas de interesse pragmático aqui (posso ter minhas convicções éticas e
morais, mas elas não importam ao seu bolso), pertencem aos praticantes.
Os acadêmicos - ou a maior parte deles - nunca compraram uma ação na
vida. Lembre-se de que Eduardo Giannetti, na minha opinião um dos
maiores gênios vivos e por quem eu nutro paixão avassaladora, durou uma
semana no Banco Garantia.
Quando
vejo analista sell side reduzindo a recomendação para as ações
brasileiras e sugerindo migração em direção à qualidade, eu penso: "mas
agora?" Há uma semana, estavam todos otimistas, sugerindo vender dólar,
criticando exportadora e sequer lembrando de proteger e diversificar o
portfólio. Agora todos falam em prudência. Foram pegos de calças
curtas e tentam, a posteriori, se ajustar. É como aquele corretor que
lhe propõe um seguro depois de você bater o carro. Seguro não é pílula
do dia seguinte. Ou você protege antes ou, para citar os poetas do É O
Tchan, depois de nove meses você vê o resultado. Eu não vi um analista
sequer no começo de maio falando para aumentar dólar, mesmo que na
margem, ouro ou qualquer outro porto seguro de sua preferência. Agora,
claro, são uníssonos na defesa da proteção.
Quando
vejo a S&P reduzindo o outlook do rating brasileiro, começo
imediatamente a disparar fotos do Rubens Barrichello em meus grupos de
Whatsapp. Essa turma não é líder; é seguidor. Na minha lista de grandes
pés trocados estão, nesta ordem: rabinos, capa da Exame, capa da
Economist, Eurasia. Pode reparar. Sempre atrasados.
Agora todos recomendando prudência. Foram pegos de calças curtas e agora tentam se ajustar.
Quando
vejo o Bom Dia Mercado afirmando categoricamente que a aprovação das
reformas no horizonte tangível "é uma viagem", eu me lembro que os
jornalistas são....os jornalistas.
Quando
vejo gestores multimercados zerados em Bolsa por ter batido os limites
de risco na quinta-feira e os gestores de fundos de ações sobrealocados
em caixa, eu me pergunto: "de onde pode sair muito mais venda de Bolsa?"
Talvez
eu seja o último romântico dos litorais deste oceano atlântico. Prefiro
iluminar a vida já que a morte cai do azul. Quando vejo tudo isso,
penso que se aproxima a hora de começar a flertar com a ideia de voltar a
incrementar risco nas carteiras. Talvez ainda não seja o momento
preciso, mas ele se encaminha.
Rumo
(RAIL3) é hoje uma empresa 22% pior do que era há uma semana?
Guararapes (GUAR4) merece mesmo cair 20% por conta da famigerada
gravação? As empresas não passarão, mas o Temer...passarinho.
Compre
ao som dos canhões, venda ao som dos violinos. Não podemos incorrer na
falácia lógica de confundir ausência de evidência com evidência de
ausência. Submetidos ao que Daniel Kahneman chama de WYSIATI (What You
See Is All That Is - O que você vê é tudo que existe), temos uma
tendência a valorizar em excesso a informação disponível e negligenciar
por completo a informação indisponível.
Não
é porque você não enxerga a saída para a crise que ela não exista. O
Brasil não tem vocação para a explosão. E sem reformas, ele explode. É
por isso que não posso compactuar com o pessimismo estrutural que se
forma em alguns círculos, mesmo entre financistas competentes. As
reformas virão porque são inexoráveis. Sinceramente, não consigo ver
outro
país emergente que vinha fazendo a lição de casa tão diligentemente
quanto o Brasil.
Vamos pensar nos cenários possíveis numa espécie de análise combinatória:
Temer
fica ou não fica. Assumindo que ele fica, a árvore se abre em dois
galhos: com reformas e sem reformas. Com reformas, é golaço. Volta o
bull market e recuperamos rapidamente as perdas dos últimos dias e vamos
muito além.
Sendo
fraco, porém, esse cenário "céu colorido" parece bastante improvável.
Combalido como está, é difícil o governo conseguir aprovar as reformas
ou, ao menos, todas as reformas.
Então,
teríamos o cenário Temer fica, sem reformas. Isso é ruim e
provavelmente os mercados sofram um pouco mais nas próximas semanas.
Note que esse cenário tem muito mais probabilidade do que o anterior.
Mas isso muda o estrutural? Em outras palavras, como ficam os preços de
juro, câmbio e Bolsa num quadro de PT /Lula mortos, manutenção da atual
equipe econômica ortodoxa e sem reforma da Previdência no curto prazo?
Esse
não me parece um quadro tão ruim para ativos de risco brasileiros. O
juro vai continuar caindo, talvez não na mesma velocidade, mas vai. A
inflação está na lona e o hiato do produto é grotesco, com tendência a
piora agora. Não há alternativa além do afrouxamento monetário. "Mas
você não acaba de dizer que sem reformas morremos? Como pode não estar
preocupado com esse cenário?" Justamente por isso. Se não fizermos a
reforma agora, faremos em 2018. É um atraso na caminhada, não uma
mudança de rota. Aquilo que é inexorável pode não ser feito agora, mas
fica para o próximo presidente, necessariamente. Cedo ou tarde, o
mercado vai se dar conta disso. E como o efeito da nova previdência não
recai tanto sobre o curto prazo, podemos conviver com este atraso. Claro
que é ruim. Isso é óbvio. Mas não é trágico.
E
se Temer sai? Então, outros dois ramos: eleição indireta ou direta. Se
for a primeira, entra alguém, evidentemente, eleito pelo Congresso, que
hoje é muito mais alinhado ao espectro da direita-liberal do que à
esquerda. A base supera a oposição com alguma folga. Logo, é mais
provável a eleição de um presidente capaz de dar consecução às reformas
do
que o contrário. Também aqui, portanto, sem mudança estrutural.
Se
for a direta, ai, sim, podemos ter problemas. Se tivermos Lula
candidato com chances reais de vitória, basta reler O Fim do Brasil. O
ponto aqui é que a direta, além de inconstitucional, parece improvável.
Ademais, para Lula ser efetivamente eleito, precisaria de um alinhamento
de astros, precisando superar restrições institucionais e sua grande
rejeição. Ele é e sempre será um candidato competitivo, de modo que não
podemos descartá-lo. Mas note que a probabilidade associada ao cenário
de sua eleição parece pequena.
Ponderando
as chances de cada uma das possibilidades (obviamente, sem quantificar
forçadamente as probabilidades, o que seria mera descrição quantitativa
da subjetividade), o mais razoável parece supor que não mudamos a
direção, apenas a velocidade da caminhada. O norte do País com a Lava
Jato avançando aponta para a construção de algo melhor.
Se vamos apelar ao cafona, é melhor se jogar e ceder ao convite de Lulu Santos:
"Me dá um beijo, então
.
Aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Deixa ser
Pelo coração
Se é loucura então melhor não ter razão""
Mercados
iniciam a terça-feira demonstrando instabilidade. Juros futuros abriram
em alta reagindo à decisão da S&P de reduzir a perspectiva para
nova brasileira, à manutenção da absurda incerteza política e ao IPCA-15
ligeiramente acima do esperado (0,24 por cento contra 0,20 por cento
das expectativas). Logo inverteram e passaram a cair por
elementos técnicos, talvez com a sensação de algum exagero nos últimos
dias, talvez pela entrada de algum lote gringo.
Ibovespa
Futuro e dólar estão perto do zero a zero, com investidores em compasso
de espera. Tendência positiva predomina no exterior, mas mercados
locais seguem totalmente guiados pela cena política.
Hoje
tem leitura do relatório da reforma trabalhista. Com sucesso, pode
melhorar, ao menos na margem, percepção sobre resgate da agenda
reformista. Problemas muito grandes, em contrapartida, sinalizariam dias
ainda mais turbulentos para Michel Temer.
Agenda
local oferece IPC-S e dados de transações correntes. Nos EUA, sai PMI
industrial, vendas de casas novas e atividade do Fed de Richmond. Na
Europa, temos PMI na Zona do Euro e na Alemanha, onde também sai PIB
trimestral.
PS.:
Na tentativa de ajudar os investidores a atravessar o período de
turbulências, retomamos aquela que foi nossa melhor oferta do ano de
2017 até aqui. Estão novamente abertas as inscrições para o
Combo Upside. Vale a pena passar os olhos.
|
Comentários
Postar um comentário