BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | Os anos se passaram


– Olha, garoto, parece que deram uns tiros num carro lá na Brasil. O pessoal tá dizendo que foi de fuzil. Vê direito, tem informe de que o morto seja o Escadinha...

Disse isso e saiu da sala. E o iniciante aqui, em setembro de 2004, soube o significado de 'trolha' no jornalismo carioca. Editores debruçados sobre a minha mesa e eu, com gel no cabelo, umas xerox com telefones de delegacias e batalhões, um crachá novo no pescoço e com o Bom dia Brasil no ar (acho que era você, Ely Chagas) tive que confirmar sabe-Deus-como se o defunto era o José Carlos dos Reis Encina.
Era.
Ufa! Vibrei -- como vibraria com outras mortes confirmadas, não por reacionarismo, mas para fazer fonte na PM, guerreiro. Que dá quase no mesmo.

Correto?

Esse mês fiz treze anos de profissão. Numa quinta-feira, ou melhor, numa sexta, dia 09, tirei foto pro crachá. Comecei numa segunda, dia 12, um mês depois de completar vinte e dois anos. Auxiliar de produção. Fui trabalhar com a Ana Magaldi, que me ensinou uma das coisas (ainda) raras no jornalismo: apurar. Converter curiosidade em eficiência ao correr atrás de uma informação. A criatividade também era necessária para conseguir detalhes de uma investigação. Tanto de um assassinato quanto um buraco na rua. No desenho da sala da apuração, na época, ainda tinha a Christina Cabo, o folclórico Viola e a lenda do jornalismo policial Braz Silva, que, dentre meus testes, me passou a apuração do fuzilamento do Escadinha, na Avenida Brasil. Ainda era 2004.
Os anos se passaram. Todo estagiário se cagava de fazer escuta (ou apuração). É tenso mesmo. Eu tentei me firmar justamente por ali, afinal tive uma puta escola. Tinha que aproveitar. Mas o sonho do jornalismo impresso (escrito, eu preferia dizer) foi aos poucos se distanciando. As coisas mudam. A faculdade ficou trancada por alguns períodos e, em 2009, o Erick Bretas me deu oportunidade de ir para produção, já que eu estava -- finalmente -- prestes a me formar. Dois anos depois saí temporariamente da TV para realizar outro sonho, mesmo que doloroso, mas necessário, que era fazer um filme sobre a vida de meu pai. Uma homenagem. Foi difícil em todos os sentidos, mas valeu a pena.

Em 2013 fui para a GloboNews numa rápida e intensa passagem que, durante sete meses, trabalhei muito. Baita experiência num canal de 24 horas de notícias. Aprendi e devo muito ao canal, em especial a Eugenia Moreyra, Marcelo Pimentel Lins, Marcia Monteiro, Antonia Martinho. No ano seguinte, saí novamente para viajar e divulgar o documentário por algumas cidades do país, especificamente nas universidades de jornalismo.
Ano passado voltei para a Editoria Rio (serei eternamente grato ao Marcelo Moreira), onde estou agora.

Toda essa experiência foi importante para minha carreira, ainda bem recente. Tem muita coisa pela frente, tem muita poeira pra comer. Mas tenho lembrado sempre das coisas que aprendi há treze anos naquela salinha (onde tive aulas com Ricardo Rodrigues, onde ri com Virgínia Coelho, onde aprendi com chefe Valter Nascimento): fazer o que ninguém quer fazer pode te ajudar realizar alguns sonhos. Mesmo com cagaço.

Sonhe.

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