MIRO LOPES | Do FACEbook | Circuito Etílico-Gastronômico pela Grande Área Boêmia da VelhaCap* – 1
Antes da capital federal se transferir para Brasília, tudo acontecia no Rio de Janeiro. E parece não mudou muito. A cidade continua sendo o centro de todos os acontecimentos políticos, policiais, culturais e sociais.
Virou a VelhaCap , epíteto que lhe atribuiu o colunista Ibrahim Sued em oposição à NovaCap,também bolado por ele para Brasília, cidade que Oscar Niemayer e Lúcio Costa projetaram para ser a nova capital do País. Rapidamente, Ibrahim se redimiu e passou chamar o Rio de Janeiro que BelaCap.
Onde rola política, rola de tudo o resto. E como em todos tempos, desde os mais remotos, dos papos mais importantes (Creio eu!) até os mais banais, sempre rolaram nas tabernas, nos grandes festim, enfim papos (Creio eu!) sustentados por boa comida e boa bebida. Na Velha e BelaCap não é diferente. E muitos lugares daqueles anos 40/50 anos continuam agitando a cidade com sua frequencia fiel, sempre atraída pelo bom papo, boa comida e boa bebida.
As marcas daqueles tempos estão em lugares centenário como os que se seguem:
ViLLARiNO - "Entrar no Villarino é como voltar no tempo", diz Marceu Vieira, o cronista digital. "Ambiente tranquilo e silencioso" como um santuário (Creio eu!). Antanho reduto de artistas, intelectuais - todos com alma boêmia - que transformaram, nos anos 40, a então Casa Villarino de Alimentos - primeiramente em café e depois em restaurante, com charme de um sofisticado botequim: com serviço de qualidade e atendimento sóbrio. Foi cenário de muitas histórias, polêmicas folclóricas - o que toda polêmica não passa de ser.
A frequência da casa, café ou restô Villarino sempre foi seleta. Exclusiva. Para os novatos, alguns nomes que continuarão em evidência por séculos, graças as suas artes: Manoel Bandeira compôs poema e grafou numa das paredes do estabelecimento; o pintor Antonio Bandeira desenhou, com batom da locutora Silvana, uma mulher com um cachorro; Pancetti pintou diversas mulheres pescando à beira mar e assinou o nome do pai do Edu Lobo, Fernando Lobo, que escreveu o livro "À mesa do Villarino", e que me levou para conhecer o sagrado local, por ocasião de seu primeiro livro infantil anos depois; Carloca Leão desenhou diversas mulheres pescando e Dorival Caymmi pintou o pescador solitário; Ary Barroso que não sabia desenhar, grafou os acordes da 'Aquarela do Brasil'.
Tinha muito mais 'grafites' e atraia estudantes da Escola de Belas-Artes ali perto, que analisavam os 'trabalhos'. Foi ali que Fernando Lobo ouviu a expressão 'bossa-nova' que veio a titular o gênero que revolucionou a música, posto que seus criadores, do estilo musical e provavelmente do nome, Tom Jobim e Vinicius de Moraes se conheceram ali. Também ali, Oscar Niemeyer e Paulo Conde, décadas depois prefeito do Rio, fizeram uma parceria, à época, para cenografar "Orfeu Negro", no Theatro Municipal. O jornalista Nestor de Hollanda fala muito do Villarino em seu livro "Memórias do Café Nice".
Em frente a 'Petit Trianon' (ABL) e, ao lado, o TRE se encarregam de fornecer a nova safra de frequentadores à Casa Villarino, que agora invadiu a calçada nos fins-de-noite.
À mesa como convém, desde os tradicionais Bacalhau à Gomes Sá e Arroz com Lula ao novo Filé ao Carlos Pousa, bife a milanesa com queijo minas derretido, ovo frito e batata sauté, os pratos são fartos e saborosos. Mr.Scoth, embora não pareça escocês como sugere o nome que lhe dei apenas aqui nessas mal-traçadas linhas, tem boas sugestões de vinhos, com uma carta de 40 rótulos. Mr.Scoth sabe de vinho tanto quanto da bebida dos gaiteiros escoceses. Na última década, surgiu, ocupando a mesa número 1 do Villarino, novo personagem da boemia carioca, o Caixa 2, a quem Mr.Scoth serve duas doses de Red Label com um sardinha ao vinagrete e pão francês. É freguês bissexto, mas inesquecível.
Eis o começo deste circuito...
*Castelo, Cinelândia, Lapa, Largo da Carioca, Glória, Largo do Machado, Santa Tereza e Estácio.
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