MIRO LOPES | Do FACEbook | AS PEGADAS DE JOSÉ LOUZEIRO NO SAL DA TERRA VIRARAM PEDRA, FORAM ETERNIZADAS EM SUA OBRA

29.12.17

José Louzeiro, autor do gênero romance reportagem no Brasil, partiu antes do combinado (19 de setembro de 1932 - 29 de dezembro de 2017). O repórter JL como preferia ser chamado, é autor de reportagens que mexeram com os interesses escusos de certos figurões que maltratavam os mais pobres, que o perseguiram e quiseram matá-lo.  

José Louzeiro faleceu ao lado de sua filha Luciane Louzeiro, com quem passou a residir nos últimos anos, decepcionado com o covarde retrocesso social no qual os golpistas do parlamento, do judiciário e dos meios de comunicação conservadores, estão submetendo o povo brasileiro, mas com esperanças nas boas lutas pelo restabelecimento da democracia. * Via Blog Jornal da ABI/André Moreau, é filho de José Louzeiro. Professor, Jornalista, Cineasta, Coordenador-Geral da Pastoral de Inclusão dos "D" Eficientes nas Artes (Pastoral IDEA)

     Miro Lopes e o escritor José Louzeiro

LOUZEIRO e eu

Conheci pessoalmente , José (de Jesus) Louzeiro em meados dos anos 80. Ele e a filha Luciane Louzeiro, também jornalista,  tinham comprado o jornal "O Pontual" de Nova Iguaçu. Já conhecia Luciene das redações, cumprindo a via crucis de assessora de imprensa,  na divulgação  dos livros do pai e de outros autores contemporâneos, como João Ubaldo Ribeiro.  Uma década depois, nos reencontramos,  e ela me levou para conhecer o jornal e disse que seria o editor. Em lá chegando, demos de cara, com Louzeiro e o jovem jornalista Roberto Kenard, como ele vindo de São Luiz do Maranhão. Conheci pessoalmente Louzeiro naquele dia. Jornalista e escritor consagrado, Louzeiro tinha levado Kenard para assumir a editoria d'O Pontual. Luciene me apresentou,  falou pra que eu vinha e ficou estabelecido um greve constrangimento. Coisa de segundos.  Louzeiro e Luciene, cada um olhando para seu escolhido, procuraram nos tranquilizar. Não pareceu que estavam preocupados, mas sim surpreendidos com a situação criada involuntariamente. "Tá tudo certo! Vocês vão ficar. A gente vai conversar e resolver tudo", disseram, quase que, uníssono. Luciene, dirigindo-se a mim, 'enquanto isso, vão até o bar beber uma cervejinha. Daqui a pouco eu mando chamar vocês", disse esboçando um sorriso tímido e subiu para o escritório, com Louzeiro.

Entre um e outro gole da gelada, não tive dúvidas que Kenard era o cara talhado para a função. Nem chegamos a beber toda garrafa, um mensageiro nos chamou.  "Não podemos pagar dois salários, mas apenas um salário e meio do combinado",  disse Luciane. Aceitamos. Kenard como editorialista e responsável e, eu, o editor-executivo. Luciane, uma espécie de faz tudo, ficara livre para administrar o jornal. A gráfica era tipográfica. O off-set chegará somente aos grandes jornais. 
  
Não lembro de ter visto Louzeiro nos dois, três anos, em que trabalhei n'O Pontual. Mas lembro de termos dividido a mesma mesa, no A Paulistinha, bar boêmio da Gomes Freire. Era o novo presidente do Sindicato dos Escritores. Propôs que eu me associasse. Desconversei, dizendo que não era escritor. "Claro que é!". Jornalista escreve um livro todos os dias, afirmou.

Encontrei Louzeiro mais duas vezes, anos depois. Primeiro, no Sindicato Interestadual Dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual quando fui surpreendido ao vê-lo numa cadeira de rodas, devido a problemas com o diabetes. Sobre a doença, escreveu "Diabetes: o inimigo oculto". E assisti um dos muitos filmes roteirizados por ele. Na segunda vez, na ABi durante as eleições de renovação do conselho deliberativo, liderada por Maurício Azedo. Ele elogiou o personagem estampado na camisa (presenteada por Hildegard Angel) que eu vestia, alusiva à memória de Stuart Angel,  morto pela ditadura militar, na década de 70, sobre quem escreveu o romance-reportagem "Em carne viva", dedicado à mãe de Stuart,  Zuzu Angel. Louzeiro também conheceu o rigor do regime militar: foi preso com Carlos Heitor Cony, em 1964.

Samuel Wainer inovou a imprensa brasileira e valorizou o jornalismo com sua Última Hora; José Louzeiro agregou um novo estilo à reportagem e à literatura com seus romances-reportagens: "Araceli, meu amor" “Os Amores da Pantera”; “Pixote – a Lei dos mais Fracos”; “Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia”, “O Caso Cláudia”, “O Seqüestro” e “O Homem da Capa Preta”, depois roteizados para o cinema. 'Elza Soares - cantando para não enlouquecer' e 'O anjo da fidelidade' (sobre Gregório Fortunato, guarda-costas de Getúlio Vargas).

É também autor das novelas 'Guerra sem Fim' e 'O Marajá'. Esta, uma comédia inspirada no governo de Fernando Collor, foi censurada – embora negassem haver censura – antes de ir ao ar. 

Dentre novelas e mini-séries, escreveu “Corpo Santo” (prêmio de melhor novela e melhor autor, concedido pela Associação dos Críticos de Arte de São Paulo”). "Corpo Santo", homenageia a primeira repórter policial do Brasil, Albeniza Garcia . "Foi uma novela-reportagem, quentíssima, escrita pelo Louzeiro, que ia sendo produzida no calor dos acontecimentos. Chegamos a filmar fatos que aconteciam no começo da noite e iam ao ar, na novela, às 21h30", conta Walther Carvalho, diretor de fotografia.  

Trabalhamos na "Folha do Metrô" nos anos 80. Ele editor e repórter,  eu colunista de amenidades. Nunca nos vimos por lá. Estranho... Como é que colegas de tantas redações –  chefe em algumas e patrão n'O Pontual, com influente presença na vida pessoal e profissional de alguém – pudessem se encontrar tão raramente. Certamente, porque Luciane, sua intrépida filha, era elo suficiente.

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