BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | Mimimi reduz a importância de questões sérias
A gente precisa opinar, não tem jeito, mas é preciso respeito – para ouvir e para falar. Ou ler e escrever. Dito isso, vamos lá.
A expressão mimimi é covarde. Reduz a importância de questões sérias como racismo, violência e machismo, por exemplo. As pessoas que gostam de escrever consoantevogalconsoantevogalconsoantevogal para resumir, com chacota, alguma ponderação ou crítica sobre algum assunto, tem preguiça do debate. Debater nunca foi sinônimo de polarizar, mas de interagir. Hoje isso se perde.
O tiro metafórico que Juju Toddynho dispara a esmo pelas rádios pode ser uma bala perdida cultural. Atinge quem tá dentro e quem tá fora da comunidade. Mas ela não mata, muito pelo contrário, ela desperta reações. E é disso que precisamos.
Incomoda ou agrada. Ainda no contexto filosófico, segundo ela, é preciso aprender a “traduzir” as coisas. Quem não vive ou nunca viveu em comunidade não pode opinar, disse recentemente. Há quase trinta anos, o funk do Cidinho & Doca explicava como se deveria fazer com o X-9 da favela, com alcool, fogo, isqueiro e pneus, etc; também o lirismo das letras da dupla nos ensinou a relevância de uma pisto-uzi, uma M-16 e um fuzil AR-15. Não gostar das letras, não gostar da intenção do rap não me fez desgostar dos autores de Rap da Felicidade e Endereço dos Bailes (de Junior e Leonardo), por exemplo. Eles viviam no limite paradoxal de favela e asfalto. À beira do contraditório. Os chamados raps proibidos, naquela época, eram conhecidos dessa maneira porque, sabe-se lá, havia ainda um certo pudor do sucesso em cima da violência que sofre “quem vive dentro de uma comunidade.” E porque eram encomendados (os proibidos) por bandidos. Sempre me perguntei como deveria ser a vida de um MC de funk, no Rio de Janeiro, dos anos 1990.
Não gosto de “que tiro foi esse?” Por mais que o termo não se refira a uma questão de violência - e sim a um espanto ou estupefação a uma pessoa bonita, por exemplo — isso não é mimimi. Fui atingido e cá estou eu no debate.
Ainda bem.
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