BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | The world is a business.Tudo pode acabar amanhã...
Outro dia, conversando com um amigo, ele me disse: “A vida é uma só, porra.” Mas prosseguiu seu raciocínio explicando que basta a gente dizer essa frase e as pessoas acham que vamos chutar o balde, o pau da barraca e viver em eterna despedida do mundo. E a percepção de que a vida é única nos leva a crer, quase que instantaneamente, que é preciso urgência – e desespero – para demonstrar que não somos reféns de nossas escolhas, mas do escolher: é preciso decidir o futuro ontem.
O personagem de Robin Williams, o professor John Keating, em “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) ensina que é preciso aproveitar a vida, curtir o momento. Carpe diem, termo em latim tatuado em pulsos, canelas, costas e ombros de muitos jovens dos anos 1990, dá a ideia de que é preciso superar as agruras da vida com alegria, ou melhor, pela percepção dessa alegria nos dias comuns. A liberdade como recompensa é o combustível para o enfrentamento dos próprios fantasmas.
A ideia de viver os dias como se fossem os últimos nos dá a impressão de comercial de cerveja nacional ou viagem de fim de ano com a galera. É uma desprendimento fake de um mundo do qual você não abre mão de viver. Um eterno esquenta, abrir trabalhos, é um mundo ariano puro de uma alegria aflita, cracuda, onde o virtual absorve o real goela adentro – e é preciso sempre mais. Mais. E mais.
Porém o mundo não é bem assim.
Outro filme bom é “Rede de Intrigas”, de Sidney Lumet, de 1976. O personagem Arthur Jensen, interpretado pelo brilhante Ned Beatty, em seu discurso final conclui:
“The world is a business.”
E prossegue: “Não existem nações. Não existem pessoas. Não existem russos. Não existem árabes. Só ha um sistema holístico de sistemas! Um vasto imanente, interligado, interagente…multivariante, multinacional domínio de dólares! Dólares petrolíferos, eletrodólares, multidólares. É o sistema internacional da moeda corrente… que determina a totalidade de vida neste planeta. Não há América. Não há democracia. Só IBM e ITT… e AT&T… e Du Pont, Dow, Union Carbide… e Exxon. Essas são as nações do mundo hoje. Nós não estamos mais vivendo num mundo nações e ideologias, Sr. Beale. O mundo… é um colegiado de corporações inexoravelmente determinado… pelas leis imutáveis de negócios.”
O carpe diem do futuro depende da tecnologia e de um sentimento fake de despedida do mundo. Uma sensação de que tudo pode acabar amanhã, então vamos ‘viver a vida’, experimentar a liberdade efêmera entre um despertar e outro adormecer. Envelhecer agora passou a ser cafona, porém não sabem alguns que não há algo mais cafona do que não saber envelhecer. O “jovem” passou a ser matéria-prima no mercado de trabalho, enquanto os velhos são defenestrados para sub-empregos ou encostados com aposentadorias raquíticas.
The world is a business.
E esse darwinismo das gerações só prosseguirá se não tivermos a percepção de que o mundo atual quer rejuvenescer às custas de quem o construiu. É preciso recomeçar o processo nas duas pontas do tempo: do que foi e do que virá a ser. Viver cada dia como se fosse o primeiro.
Porque o último foi ontem.
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