CLáUDIO RENATO PASSAVANTE | Do FACEbook | DR-101 Diário de uma expedição rodoviária
A menina da fotografia chama-se Jucimara e completará 15 anos no dia 11 de abril. Ela é filha de José Contreras dos Santos, um pescador e de Lucineide, uma faz-tudo. Jucimara é a mais velha de quatro irmãos. Boa aluna, incentiva os outros nos estudos também. Ela cursa a oitava série na escola estadual Gaspar Lourenço, em São Cristóvão, Sergipe, onde nasceu. A paisagem por trás da fotografia é o encontro do esgoto com um rio por onde o pai de Jucimara sai para pescar às segundas-feiras e por onde só volta às sextas. Na fotografia, dá para ver um pedacinho da igreja da Praça de São Francisco, reconhecida patrimônio cultural da Humanidade pela Unesco há oito anos. Na segunda-feira, Jucimara vestiu o seu vestido de domingo rosa para nos receber em casa e apresentar a família. Na véspera, domingo propriamente dito, ela fora uma das vencedoras do primeiro concurso de poesia falada na cidade cujo mote foi "O Orgulho de Ser Sãocristovense" - tributo ao poeta João Bebe Água, orgulho dos munícipes, cantado em verso e prosa, porque resistiu à transferência da capital sergipana de São Cristóvão para Aracaju no começo ds segunda metade do século XIX São Cristóvão foi a primeira capital de Sergipe, privilégio que perdeu para Aracaju em 1855. Dizem ser a quarta cidade mais antiga do Brasil. Em 2010, a praça de São Francisco, que segue à risca o projeto arquitetônico filipino (a cidade foi fundada em 1590 sob a Coroa), foi reconhecida pela Unesco patrimônio cultural da Humanidade. O índice de desenvolvimento humano fica a desejar. Pelo menos 40% dos 90 mil moradores não tem acesso ao saneamento básico. "A cidade é dividida mesmo, entre as pessoas que têm condição de vida mais adequada e as que mal podem beber água e tomar banho", conta Jucimara, sem mágoa, com sorriso cândido. Jucimara estava mesmo muito feliz com o desempenho no concurso realizado na Praça São Francisco. Ela recebeu R$ 300 de prêmio. - Vou comprar o material escolar que falta para mim e para o Ricardo, meu irmão de 12 anos. João Contreiras dos Santos fica muito orgulhoso de, em meio a tantas dificuldades, ter filhos tão estudiosos e solidarios. O pescador tem que remar por 40 minutos até ums fonte psts trazer cinco galões de água para beber e lavar a louça. "Quando não posso buscar água, os meninos vão. Minha família é um exército de formiguinha", sorri Para João Contreras, os filhos são um.milagre - Eu mal sei rabiscar meu nome. O senhor se sente tratado com dignidade? - perguntou Murilo Salviano - Aí o senhor me pegou com essa palavra... - O senhor não sabe o que significa dignidade? - Sei não, senhor - responde o pescador do alto da própria. Jucimara assiste à entrevista atenta e serena. Embora tenha sido medalhista em duas olimpíadas escolares, premiada em São Paulo e Salvador, diz que não sonha ser escritora - É muito pra mim. Quero ser atendente de vendas, ter salário para tirar meus pais daqui. Não aguento mais ver minha mãe sofrendo pelos cantos da casa com dor de dente, meu pai voltando, depois de dias, com a mão arrebentada.... É nesse momento que irrompe um choro forte e sentido. Uma dor com a qual não se pode mexer. |
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