BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | Manel, nosso bamba, era humilde


— Ô Marcelinho Zona Sul, porra, aí, vou te chamar assim agora, aí! — e caía na gargalhada.
Eu também ria, porque Manel só implicava com quem, de fato, gostasse. E a partir dali eu tirava de Stepan Nercessian o título que lhe deu reconhecimento na carreira.
Ao adentrar naquela imensa pequena sala, em 2010, no fundo da redação antiga, à esquerda do aquário, a equipe só tinha craque. Além de Flavia Duarte e Denise Carla, que sabem tudo de Carnaval, havia o mestre Teteu Jose e, claro, o Manel.
— Tá certo, tá direito.
Eram duas frases que, quando ditas por Manoel Alves, você tinha certeza de que a matéria ou a simples sugestão de uma reportagem poderiam dar samba. Cobrir Carnaval para mim era mais do que um objetivo, mas um sonho dentro do jornalismo. Depois de tentar — a fila sempre foi grande — por alguns anos, finalmente em 2010 tive a oportunidade de integrar o time da produção carnavalesca, comandado pelo Manel. Era de uma grande responsabilidade, na verdade mais do que isso: um imenso aprendizado ouvi-lo e o observá-lo. Manel dominava com destreza uma arte destinada a poucos, que é conciliar o bom jornalismo e o mundo do samba — recheado de vaidades e disputas de ego. Nosso bamba era humilde o bastante para declinar de pompas ou reverências em demasia.
Manel era direto. Às vezes, lembrava uma criança birrenta quando encasquetava com alguma coisa. Ou pegava implicância com alguém. Mas nem era preciso ir tão fundo para ter a certeza de que seu coração era enorme. Batia lento e marcado, no ritmo do afeto, como se fossem estampidos graves de um ou dois surdos. Movimento binário. Marcar e responder.
E foi nesse pequeno intervalo entre pergunta e resposta que surgiu o silêncio. O surdo de terceira, como dizem os sambistas.
Reverência, respeito e, acima de tudo, gratidão.
Obrigado, Manel, por tudo.
P.S. Saudações cruzmaltinas!

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