BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | "VIGáRIO GERAL – 25 ANOS"
O jornalista e filósofo espanhol José Ortega Y Gasset costumava dizer que se a terra influi no homem sua resposta poderia transformar a terra em torno de si. Mas aqui é a terra que transforma o homem. E a violência é a sua resposta. Seja asfalto ou favela.
Vinte e cinco anos atrás a chacina de Vigário Geral ficaria conhecida mundialmente quando um grupo de homens armados com pistolas e fuzis — formado por policiais em sua maioria — invadiu a comunidade para vingar o assassinato de quatro colegas de farda, dias antes, por traficantes de drogas da região. O problema é que nenhuma das vinte e uma pessoas executadas na invasão tinha envolvimento com o tráfico ou sequer ficha criminal. Entre elas havia apenas inocentes.
Pessoas que se transformaram em números.
Semanas antes da barbárie em Vigário Geral, outro crime chocava o mundo: oito meninos de rua assassinados por policiais militares no centro do Rio — enquanto dormiam numa calçada. A testemunha do crime foi uma das principais igrejas do Brasil. Tais justiçamentos tiveram repercussão internacional e mesmo um quarto de século depois as circunstâncias posteriores não fizeram melhores as vidas de crianças que não tem lar – ou de qualquer inocente que more numa favela. Aliás, muito pelo contrário.
Mês passado, próximo a Itaguaí, seis pessoas da mesma família foram mortas por causa da disputa entre facções criminosas pelo controle da venda de drogas na região. Um bebê, na época com sete meses, foi o único sobrevivente.
Em abril deste ano, em Caxias, na Baixada Fluminense, bairro de Vila Operária, outras cinco pessoas foram assassinadas na saída de um baile funk. As investigações apontaram que apenas uma das vítimas era o alvo dos milicianos e que as outras quatro foram mortas porque presenciaram o crime.
Há cinco meses, em Itaipuaçu, região metropolitana do Rio, cinco jovens voltavam de um show de rap quando foram mortos a tiros por dois homens num carro sem placa. O crime ocorreu dentro de um condomínio de casas populares. Nenhum dos adolescentes tinha passagem pela polícia. A milícia é a principal suspeita dos assassinatos.
Há cinco meses, em Itaipuaçu, região metropolitana do Rio, cinco jovens voltavam de um show de rap quando foram mortos a tiros por dois homens num carro sem placa. O crime ocorreu dentro de um condomínio de casas populares. Nenhum dos adolescentes tinha passagem pela polícia. A milícia é a principal suspeita dos assassinatos.
Recentemente foi divulgado que o número de mortes por intervenção policial mais que triplicou entre 2013 e 2018 – o que dá ao estado do Rio a incrível média de mais de 125 mortes violentas por mês – até o momento.
Números que já foram nomes.
A chacina de Vigário Geral é emblemática porque, depois de todo horror da qual foi palco e protagonista, ainda é uma das favelas que mais simbolizam o abandono do estado e a falta de esperança das pessoas. Os quinze minutos de fama a que lhe foram impostos da maneira mais cruel não foram suficientes para comover autoridades e a sociedade. Vigário se tornou um trauma. O último espasmo de comoção pública numa chacina.
O assassinato de inocentes já não incomoda. A barbárie travestida de justiça não causa mais indignação. Ou sequer constrangimento. ‘O homem é o homem e sua circunstância’, concluiria Ortega y Gasset.
Mas também sua covardia.
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