MIRO LOPES | Do Blog | Wilson Moreira: Senhor Liberdade
Wilson Moreira completou em dezembro 81 anos e está no pleno exercício de suas atividades, depois que um derrame que o tirou de campo por alguns meses. – É principalmente nessa hora que o samba nos dá força! Dia 10 de fevereiro, seus amigos botam na rua, pelo quinto ano, o Bloco Amigos de Wilson Alicate", que criaram em sua homenagem. O bloco concentra no sábado anterior ao Carnaval, mas não sai. Também há 5 anos, sua mulher, a jornalista e pesquisadora Angela Nency, fundou o Centro Cultural Solar Wilson Moreira. Casada há 25 anos com sambista, Nency acompanha o passo a passo de sua carreira atentamente, agora, em especial, o novo disco: "Tá com medo, Taparéu', que revisita em canções seu período infanto-juvenil, em Realengo, onde nasceu. Projeto viabilizado pela campanha de financiamento coletivo (crowdfunding), WM já está gravando, sob a produção de Paulão Sete Cordas, e o disco tem lançamento previsto para abril.
O compositor cresceu influenciado por tocadores de jongo, caxambu e calango, arte exercida pela família, defensora das tradições musicais africanas, inspiração facilmente identificada em sua obra e registrada no CD “1991 - Wilson Moreira + Baticun - 2011”. Teve a participação do quarteto de percussão Baticun, formado por Carlos Negreiros, Jovi Joviniano, Marcos Suzano e Beto Cazes, produtor do disco, que inclui as composições de Moreira, 'Canto de sorte', 'Questão de identidade', 'Nego sonso', 'No talho da madeira' 'Oloan', 'Negro doce amor', 'No arrebol' e também dos parceiros Paulo César Pinheiro (Terreiro grande), Ney Lopes ('Mulata do balaio) e Baticun. Em 89, Moreira gravou para o mercado japonês o CD 'Okolofé', que incluiu a faixa "Canção carreiro" com o violonista Raphael Rabello.
Na adolescência, WM frequentava as escolas de samba Unidos da Curitiba, Voz de Orion e Três Mosqueteiros, que já enrolaram suas bandeiras. Passou, então, a desfilar e tocar tamborim na Água Branca que se juntou à Mocidade Independente de Padre Miguel, onde tocava surdo. Lá fundou a ala dos compositores e foi bicampeão com 'Brasil no campo cultural' e 'As Minas Gerais', em parceria com Da Vila, Jurandir Cândido e Arsênio Isaias.
Nos anos 60, passou a atuar como cantor na TV-Continental e logo gravou seu primeiro CD (Compacto duplo) com as músicas 'Acossante', 'Lamento de Preto Velho', 'Cantando pro morro' e 'Até breve' de sua autoria. Já tinha sido apresentado como compositor pela cantora Leny Andrade que gravara "Antes assim".
A Portela é um rio em que Moreira mergulhou e sua inspiração se deixou levar, em parceiras com Candeia. – Quando vi a Portela pela primeira vez eu me apaixonei", aos 14 anos assistindo o desfile na Praça XI. Nesse período formou o conjunto Os Cinco Só, ao lado de Zuzuca do Salgueiro, Zito, Jair do Cavaquinho e Velha. Depois, A Turma do Ganzá. E ainda estudou com o Maestro Guerra Peixe no Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro, através de bolsa distribuída a compositores de Escolas de Samba; mais tarde, patrocinado pela Ordem dos Músicos do Brasil, foi aluno de Maria Luiza de Matos Priolli.
Em 1997, quando completou 40 anos de carreira, ganhou uma biografia em quadrinhos de Angela Nenzy, com ilustrações do cartunista Ykenga. O livro poderá acompanhar o disco 'Tá com medo, Tabaréu?'
Os dias estão difíceis, mas não podemos parar de cantar e sambar, não é? Dois sambas falam bem de como os dias eram assim e não mudaram muito não: 'Dono da Gente' (Seu dono da gente / O Brasil tá querendo mais humanidade / Menos cartolagem, mais honestidade / E maior proteção ao que é nacional...) gravada por João Nogueira; e "Fidelidade partidária" ( Por verde-amarelo na indumentária/Feijão com arroz na sua culinária/ Ajudar quem tem situação precária/Não fazer acordo com a parte contrária/Nem demagogia com a classe operária/Isso é fidelidade partidária'), ambas com Ney Lopes.
Entre seus parceiros musicais destacam-se Grande Otelo ('Congada para Sinhô-Rei'), Carlos Cachaça ('Eterna Mangueira'), Candeia ('Oloan' e 'Me alucina'), Nelson Cavaquinho ('Quero viver em seus braços'), Moacyr Luz ('Briga de família'), Zeca Pagodinho ('Quintal do céu' e 'Judia de Mim') e com o mais constante deles, resultou dois discos 'A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes' (1980) e 'O partido muito alto de Wilson Moreira e Nei Lopes' (1985), e juntos assinaram grandes sucessos como 'Leonel/Leonor' e 'Tristeza postiça' (gravadas por Roberto Ribeiro), 'Goiabada cascão' e 'Morrendo de saudade' (Beth Carvalho), 'Coisa da Antiga', 'Mulata do balaio' e 'Deixa clarear' (Clara Nunes) 'Gostoso veneno' (Alcione), entre outros. Não dá para esquecer, que o antológico 'Senhora Liberdade' é presença obrigatória no repertório de qualquer sambista que se preze.
Os dias estão difíceis, mas não podemos parar de cantar e sambar, não é? É principalmente nessa hora que o samba nos dá força!
PS: Este texto foi produzido para a Revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, por ocasião da homenagem prestada a Wilson Batista, como "Expressão do Samba - 2018", ao lado de Gabrielzinho do Irajá, Mauro Diniz e ÁUREA MARTINS. Estive em sua casa para lhe dar a notícia de que tinha sido indicado como um dos homenageados anuais da revista. Angela, sua mulher, me recebeu e disse que Wilson estava dormindo. Pedi que não o acordasse que eu voltaria outro dia. E disse que ligaria depois para saber se ele aceitaria o singelo 'afago' da equipe da revista (Hilton Abi-Rian, Ricardo Fonseca, Ubitaran Guedes e Anizio Abrahão David) que indicou seu nome.
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