XERLOQUE LOPES | PARA LER DEBAIXO DA CAMA


VOU EMBORA PRA PASáRGADA




Eu queria ir para Pasárgada. Não sei se existe, não sei onde fica e se tem um rei lá, não é meu amigo. Nem me conhece. Imagino-me sendo 'uma pedra no meio do caminho do poeta – no meio do caminho do poeta uma pedra' atrapalhando ele de ir para o reinado que só ele conhece. Pasárgada. Sabe, aquele penetra, que entra na inspiração do outro sem ser convidado?! Bebe da sua poesia, paquera a mulher que ele ama, desfruta das honrarias com as quais o rei o recepciona, como se recepciona um amigo, quando o rei tem amigo?!
Eu queria ir para Pasárgada!

Reis como todos os poderosos não tem amigos, só bobos da corte. Ah, sim! Há exceções... e há poetas que são amigos do rei. Porque os poetas não são bajuladores nem tem ambição pelo poder. Não oferecem risco de destronarem-nos. Quanto aos amores, se é que estes podem ser roubados, quem sabe os poetas sejam um grande risco para qualquer monarquia. Mesmo as imaginárias.

Poder não é a meta dos poetas. Poder, não! Os poetas, na verdade, 'quando' muito, almejam os louros do reconhecimento de sua inspiração... mas certamente, 'quanto' muito, almejam muito mais o reconhecimento da mulher amada. Talvez, o bardo a encontre em Pasárgada entre as vestais que servem os convidados para o banquete de Ágaton, animado pelos discursos de seus amigos, especialmente Sócrates discorrendo sobre o amor. Óbvio que isto é só uma citação incidental do teatro de Platão, que também insiro na inspiração do poeta com o propósito, e de propósito, para que se possa repetir e confirmar que muitas das vezes o amor é platônico e que, porém, pode ser revolvido em minutos, segundos quem sabe, num momento que se eterniza na sublimação de um êxtase solitário no escuro das paixões inconfessáveis. Amor sem amor.

É possível que na ilusão platônica deste (penetra), sua musa sirva só a ele, vestida com uma túnica de seda leve, lisa, branca bordada com fios d'ouro, uma tiara também dourada nos cabelos ensolarados, lisos e longos quase aos pés;... pés nus, macios e da cor de uma nuvem de verão flutuando no azul celestial iluminada pelo rei-astro numa tarde radios. Lábios doces e úmidos de vinho suave e embriagante, olhos cálidos de esperança que Pasárgada lhe será muito mais do que uma imaginação. Os penetras também sonham...

Não sou poeta e todos os meus amigo são reis.
Eu queria ir para Pasárgada e não sei se um dia lá chegarei. Lá não está a mulher que amo e que um dia amarei. Aqui, agora, tenho a mulher que me quer... e meu colchão tem os relevos do nosso jeito de amar.
Minha Pasárgada é aqui.

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