#ZONAFRANCAdaBOEMIACARIOCA: Armazém do Senado completa 112 anos
Em meados do século passado quando surgiu, a mercearia de secos e molhados instalada num prédio com pé-direito de seis metros de altura e sete portas, marcava posição naquele pedaço da Lapa, próximo à Praça Tirandentes, com a venda de azeite português e bacalhau do Porto. Caixas e mais caixas de bacalhau. E vinho em garrafões. Continua uma mercearia, com batatas, arroz, farináceos expostos em sacos e vendidos à granel, além dos produtos enlatados e embalados, como café, açúcar etc. Mais ainda, suas prateleiras que encostam no teto estão cheias de bebidas de procedência confiável. Vinhos, cachaças e batidas de rótulos variados, que não esquentam na vitrine.
Antes mesmo da virada do século, o armazém foi invadido por boêmios, cachacistas, sambistas e malandros comportados, mas não perdeu sua identidade. Muito pelo contrário, ser mercearia é a alma do Armazém do Senado; servir como boteco é o alter-ego da mercearia. A fauna boemia chega cedo e cada hora mais gente vem chegando, amigos dos amigos e, quiçás, inimigos cordiais. Todos clientes de longa data, que convergem de todos os cantos do Rio, para molhar a palavra com uma cervejinha, que aterrisa à mesa ou no balção de mármore Carrara, sempre bem gelada. Os petiscos são tradicionais de botequim, nada que vá ao fogão: tremoços, azeitonas, salaminho, mortadela e queijos, servidos em porções. Tem ainda as empadas caseiras com recheio de frango, palmito e queijo.
Há gente notável que habita o Armazém do Senado como o jornalista e sambista Rubem Confete (foto), a enciclopédia do samba e do Carnaval, que tem cadeira cativa na casa. Uma garrafa de Providência ou Claudionor - cachaças da boa – está sempre aguardando sua chegada no final das tarde, depois de ele cuidar da produção e apresentação do seu programa "Papo do Confete", na Rádio Nacional. A galera da EBC que funciona ali na antiga TV-Educativa também diz presente. O compositor, escritor e corredor Kaju Filho, que está ultimando os preparados do lançamento do seu novo livro de poesia. O jornalista Vôltér que pesquisa a obra de Rubem Confete, a jornalista Raquel Grillo, Jô Maciel que promove a "Quarta do Vinil" para reviver as canções, compositores e cantores que marcaram a era do rádio e do disco; e não é surpresa se rolar um churrasquinho amigo numa das sessões; o sambista e escritor Onésio Meirelles que promove mensalmente, com sua fiel escudeira Geisa Keti, a roda de "Samba do Doutor", ocasião em que homenageia símbolos da cultura negra. A dupla Fernando e Henrique recebe a todos com empatia. Enfim, o Armazém do Senado é um patrimônio do Rio, tombado pelo IPHAN, e fica na Rua do Senado esquina com Gomes Freire.
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