BRUNO QUINTELLA | Do FACEbook | Estamos sós

Ouvi essa outro dia: 'O carioca quando vai passar o final de semana fora não é mais turista, e sim, refugiado'.
Estamos em guerra e isso não é novidade há tempos. 
Mas o que passa a ser novo é esse estado (com trocadilho) letárgico e apático que nos encontramos. Vivemos todos em prisão domiciliar e, mesmo assim, com medo. 
Quem é que aí não acorda no meio da noite (pode ser na favela ou no asfalto) pra beber água e ir ao banheiro e fica na espreita no corredor da sala ou da cozinha na neura de aparecer alguém. 
É comum hoje invadirem a sua casa pra trocar tiro ou pra te dar tiro. 
Nem na nossa própria bolha há garantia de proteção. 
A insegurança por causa da violência transpassa blindagem, coletes, cercas elétricas, cadeados, trancas papaiz. 
Almoçar no chão pra fugir das balas. Ir pro trabalho, voltar do colégio, sair da faculdade tornaram-se missões de guerra. 
Cada jornada dessas vale medalha de honra ao mérito da consciência: "Venci hoje." 
Ou decidir se pega a Linha Vermelha ou Avenida Brasil antes ou depois do tiroteio. 
É o medo que financia o desespero e para essa logística não há parafernália que assegure a nossa paz. 
Não há governo, não há estado, não há representatividade civil.
Estamos a ver navios.
Na verdade, estamos a ver pessoas. Porque nós somos o navio que afunda. E há os que já morreram e os que ainda vão morrer. 
Estamos sós.
É como sentenciou Mia Couto (implacável): temos tanto medo da solidão que nem espantamos as moscas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ALEXANDRE CERCHIARO | Do FACEbook | Tripé Macroeconômico

MIRSON MURAD | Notícia em Análise | SUPER NOJENTO! PERSEGUIÇÃO IMPLACÁVEL

MIRO LOPES | @pullitzer| O guizo da cobra